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09 maio 2010

129. No tabuleiro da baiana

Para Juliana Lira

Ary Barroso, além de cantar os quitutes no Brasil, cantou também as belezas do povo (das mulatas, principalmente). "No tabuleiro da baiana" e "Na baixa do sapateiro", entre vários exemplos, apontam para isso.
Na versão de João Bosco e Daniela Mercury, lançada do Songbook Ary Barroso (Disco 1, 1995), "No tabuleiro da baiana" ganha novos significantes, a medida em que o diálogo interno da letra se faz visível pela sobreposição das vozes dos intérpretes.
Iôiô e iáiá se encontram para cantar o encantamento. Iôiô (estrangeiro) anuncia e iáiá (bela de si) responde elencando suas delícias encantatórias. Ao mesmo tempo em que o próprio iôiô aponta o que mais lhe chama atenção, entre as coisas oferecidas.
Desde os delicados "floreios" vocais que abrem a canção, até o imbricamento entre o texto e a doce melodia, os índices de aproximação entre os dois figurativizam o jogo amoroso. Do tabuleiro ao coração da baiana, o sujeito percorre uma trilha de sensações que lhe embriaga os sentidos.
Candomblé e Senhor do Bonfim abençoam a junção dos trapinhos (das vozes, das pré histórias) dos amantes. Encantado, ele quer ser o iôiô de iáiá. Eles se unem sem saber o que será dos dois. Mas quem saberá?
A performance vocal de João Bosco e Daniela Mercury personifica os sujeitos, cria novos sentidos e embala o ouvinte feliz pelo encontro dos dois: iôiô e iáiá, ambos um do outro. Até que a fila ande e outro comprador apareça na frente do tabuleiro da baiana.

***

No tabuleiro da baiana (Ary Barroso)

No tabuleiro da baiana tem
Vatapá
Caruru
Mungunzá
Tem umbu
Pra ioiô

Se eu pedir você me dá
O seu coração
Seu amor de iaiá

No coração da baiana tem
Sedução
Canjerê
Ilusão
Candomblé
Pra você

Juro por Deus
Pelo senhor do Bonfim
Quero você, baianinha, inteirinha pra mim
E depois o que será de nós dois
Seu amor é tão fulgáz, enganador

Tudo já fiz
Fui até num canjerê
Pra ser feliz
Meus trapinhos juntar com você
E depois vai ser mais uma ilusão
No amor quem governa é o coração

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Toda a malícia da Bahia e do povo baiano,numa só canção,feita por um não baiano.