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12 junho 2010

163. Índia

O disco Índia (1973) merece registro sublinhado na história da nossa canção: seja pela capa quente, assinada pelo então Waly Sailormoon; seja pela participação de músicos como Dominguinhos, Tenório Jr. e Gilberto Gil; seja pelos temas; e, claro, seja pela presentificação de uma Gal Costa explorando várias matizes (volumes e alturas) de sua voz.
Rodrigo Faour, no livro História sexual da MPB, lembra que Gal Costa "abriu caminho para várias gerações de cantoras mais liberadas e sensuais na MPB". De fato, capas com nossas sereias em poses sensuais surgiram à mancheia. Podia-se, então, cantar usando o corpo.
Lógico, basta lembrar o contexto histórico-político do lançamento, "a capa de seu LP Índia foi censurada e vinha envolta num plástico preto": Clara (obscura) contradição de um país que, pela truculência, tentava impor a "civilização". Haveria, portanto, para tal pensamento tacanho, algo mais incivilizado que a imagem de uma índia expondo em close sua beleza (quase) nua? A tanga de Gal desconsertava nossas meias verdades tupis.
A primeira faixa do disco é a canção-título: "Índia" (José A. Flores / Manuel O. Guerrero / José Fortuna). A adaptação de uma canção paraguaia, com arranjos do maestro Rogério Duprat (um dos responsáveis pela antropofagia musical da Tropicália), canta a possibilidade da separação entre o sujeito e sua musa de sangue tupi e cheiro de flor.
A canção figurativiza (desenha) a índia do título. Os traços corporais (cabelos, lábios, olhos, pele) fotografam aquilo que seduz o sujeito. E Gal, índia paraguaia, em timbre meloso, expõe a angustia do sujeito que entrever a separação de seu bem-querer; e que intenciona ficar com o gosto da musa nos lábios. Lábios que cantam a índia, todo o Paraguai.

***

Índia
(José A. Flores / Manuel O. Guerrero / José Fortuna)

Índia, teus cabelos nos ombros caídos
Negros como as noites que não têm luar
Teus lábios de rosa para mim sorrindo
E a doce meiguice desse teu olhar
Índia da pele morena
Tua boca pequena eu quero beijar

Índia, sangue tupi
Tens o cheiro da flor
Vem que eu quero te dar
Todo meu grande amor

Quando eu for embora para bem distante
E chegar a hora de dizer-te adeus
Fica nos meus braços só mais um instante
Deixa os meus lábios se unirem aos teus

Índia, levarei saudades
Da felicidade que você me deu
Índia, a tua imagem
Sempre comigo vai
Dentro do meu coração
Todo meu Paraguai
Todo meu Paraguai
Todo meu Paraguai

2 comentários:

Diana disse...

Olá, ouvi sua entrevista no Chat MPB. Achei tão interessante seu projeto de 365 música (principalmente por serem as da rádio MPB FM). Ouço a MPB no trabalho todos os dias rs Eu tenho um espaço na internet sobre artes em geral (principalmente Música e Cinema). Abro um espaço pros cantores e bandas do cenário mais independente ou até mesmo os que estão no caminho há algum tempo, contudo não tem o devido espaço da mídia. Como o Rubi e a Nô Stopa, conhece o trabalho deles? Aliás, tem uma entrevista da Nô lá no meu blog, se quiser conferir será bem recebido. Queeria trocar algumas figurinhas musicais com você. Conhece Filipe Catto? Ele é de Porto Alegre. Primoroso e disponibiliza seu EP pela internet. Bem, tenho outros nomes, mas já me alonguei por demais rs

ADEMAR AMANCIO disse...

A Gal regravou esta música em 79,ela conseguiu melhorar o que já era bom.