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25 junho 2010

176. Samba de um minuto

Devagar, devagarinho, a cantora Roberta Sá, nascida em Natal (RN), mas banhada nas fontes do samba carioca, vem imprimindo sofisticação e excelências às canções que entoa.
A escolha do repertório aponta uma intérprete exigente e atenta ao passado e às promessas de felicidade, para compor o lastro sonoro do presente. Belo e estranho dia pra se ter alegria (2007), segundo disco, é exemplo disso.
Em "Samba de um minuto", de Rodrigo Maranhão, podemos entrar em contato com a voz afinada, delicada e precisa de Roberta. A letra chama à cena o "estranho" do título, mas resulta na criação do "estado belo": a libertação da dor.
O sujeito (poeta/cancionista) se isola: pede o esquecimento do tempo lá de fora e até da rima cara para ter a atenção do destinatário voltada apenas para a mensagem: "com minha dor não se brinca", "a fonte (amorosa) secou" e "o novo sempre vem".
Volta o tema da saudade (subterrâneo, obscuro, escuro, claro), mas com uma certa fresta de sol. O tempo não pára e o sujeito busca novas miradas - aliviadoras da dor, causadas, ao que tudo indica, pelo comportamento do outro: sem verdades para dizer, nem maldade para fazer.
Devagar, na contra mão da roda da vida, o sujeito vira o jogo, pede calma, pára o andamento da relação, por um minuto, e diz suas verdades. Chama a atenção do outro para o que está incomodando: causando dor - motivo do canto (o samba de um minuto): "e se a dor é de saudade, e a saudade é de matar, em meu peito a novidade vai enfim me libertar".

***

Samba de um minuto
(Rodrigo Maranhão)

Devagar
Esquece o tempo lá de fora
Devagar
Esqueça a rima que for cara

Escute o que vou lhe dizer
Um minuto de sua atenção
Com minha dor não se brinca
Já disse que não
Com minha dor não se brinca
Já disse que não

Devagar, devagar com o andor
Teu santo é de barro e a fonte secou
Já não tens tanta verdade pra dizer
Nem tão pouco mais maldade pra fazer

E se a dor é de saudade
E a saudade é de matar
Em meu peito a novidade
Vai enfim me libertar

Um comentário:

Bruno Garcia disse...

"e se a dor é de saudade, e a saudade é de matar, em meu peito a novidade vai enfim me libertar" Parabéns pelo projeto!