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07 agosto 2010

219. Música

Há vida após o amor? O amor, infinito enquanto dura, nos mantém vivos: acesos para a vida. Óbvio que há certo romantismo em tal ideologia. Mas, de cara, amar é ter alguém por quem viver (talvez, por isso dizem que só as mães são felizes), enfrentar as intempéries dos dias que surgem e fazer um acordo erótico com o tempo. Amar é cantar o outro, pois, de viés, estamos nos cantando também.
Amar é autocantar-se. Portanto, amar é uma questão de sobrevivência, já que, enquanto adultos (perdidos - errantes - no mundo sem o canto materno e sem a proteção do ventre) nosso empenho (objetivo de vida) está em ser cantado, mimado: identificado (distinguido) na massa coletiva.
Sim, há aqueles que (dizem) não amam (portanto não são amados), e se vangloriam disso. De fato, existem várias formas de amar e todas valem a pena. Além, claro, das implicações do histórico da vida de cada indivíduo.
Do disco Essa boneca tem manual (2006), a canção "Música", de Liminha e Vanessa da Mata, é o canto daquilo que eterniza o amor: o próprio canto. Ou seja, a relação (convivência) pode ter findado, mas o amor - aquilo que dá sentido à vida do sujeito da canção - não.
O sujeito canta o começo de uma nova etapa na vida das personagens. Distantes, elas, nos momentos de dor e desencanto, terão a lembrança do afeto (dos planos despedaçados) para aquecer o coração.
O sonho (de eternidade da relação, comum aos apaixonados) se perdeu no fio da vida (labirinto de labirintos). No entanto, isso não significa o fim. Recomeçar separados, mas sem feridas, implica, assim, lembrar da música que existe entre os dois: sujeito e destinatário.
Lembrar da música é anular as despedidas (sempre dolorosas), pois ela (a música) traz paz e amizade entre as personagens. E quem há de negar que a amizade não é superior?
O mar (que é bonito ao quebrar na praia com sua presentificação do ritmo universal) surge aqui como o espaço de completação do infinito que se projeta: plasmando um futuro. Reino das sereias (que são tematizadas pelos vocalizes de Vanessa da Mata, no início da canção), o mar aperta os sentimentos e dispara a sensação de retorno do desejo.
O mar aplaca a amargura (o acompanhamento melódico fica mais pesado quando o sujeito lembra aquilo que significava a união dos dois) que o sujeito da canção, por hora, sente. Afinal, separações são complexas: como esquecer dos costumes se o sujeito não esqueceu do outro?
Toda história (como o vidro que cai) tem seu fim. Dura o tempo exato de durar. Pouco ou muito, o amor que ligou as personagens é que parece querer acréscimos, além do tempo regulamentar.

***

Música
(Liminha / Vanessa da Mata)

Nosso sonho se perdeu no fio da vida
E eu vou embora sem mais feridas
Sem despedidas
Eu quero ver o mar

Se voltar desejos ou se eles foram mesmo
Lembre da nossa música, música
Se lembrar dos tempos dos nossos momentos
Lembre da nossa música, música

Nosso mais belo plano desperdiçado
Nossos beijos de outrora foram guardados
Nossas juras de amor já desbotadas
Nossa graça e vontade derretem na chuva

Um costume de nós fica agarrado
As lembranças, os cheiros, dilacerados
Nossa bela história está no passado
O amor que me tinhas
Era pouco e se acabou

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